Ensino de História Clubes Negros na Escola
Associação Satélite Prontidão

Descrição: Foto de edifício com três andares, com garagem e janelas amplas de vidro, na fachada do segundo andar existe um emblema com as siglas do clube ASP - Associação Satélite Prontidão, localizado na R. Alberto Rangel - Rubem Berta, Porto Alegre. Fonte: FEIJÓ, Ana Lúcia Felippe. Os 110 anos da Associação Satélite Prontidão em uma viagem através da fotografia. Porto Alegre, 2013. Monografia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. p 15.
Sociedade Satélite Prontidão:
A Associação Satélite Prontidão (ASP) surgiu a partir da fusão de duas organizações, a primeira é a Satélite Portoalegrense, que teve a sua fundação em 1902, e a outra, a Sociedade Cultural Carnavalesca Prontidão, fundada em 1925. Em 1956, ocorreu a fusão que originou a Sociedade Cultural Beneficente Satélite Prontidão, onde foi realizada a aquisição da primeira sede no bairro Cidade Baixa.
Desde a sua fundação, a ASP esteve envolvida com o carnaval da cidade e, durante esse período do ano, organizava bailes nas regiões da Cidade Baixa e Colônia Africana, antigos territórios negros e quilombos urbanos que, com o processo de higienização da cidade, foram sendo expulsos das regiões centrais da cidade. Os bailes que ocorriam somente no período dos carnavais passaram a contar com o apoio das famílias negras, através de convites, o que aproximou a ASP da comunidade, propiciando o funcionamento do clube o ano inteiro, com eventos realizados no espaço do teatro São Pedro.
No período entre 1960 e 1970, houve uma diminuição na frequência dos grandes bailes da associação, tornando-se comum a realização de festas de aniversário, almoços, jantares, chás das senhoras, baile dos solteiros e a realização do baile de carnaval uma vez ao ano. Em 1970, a ASP deixou a sua sede na Cidade Baixa e foi para a Zona Sul de Porto Alegre, na Av. Aparício Borges, bairro Glória, e hoje localiza-se na Rua Alberto Rangel, no bairro Rubem Berta. Esse processo de mudança de território da associação negra está relativo ao processo de gentrificação próprio da urbanização capitalista, que expulsa pessoas economicamente empobrecidas e racialmente discriminadas, como negros, indígenas e quilombolas.
Desde a sua fundação, a ASP preservou em seu estatuto a obrigação de manter uma biblioteca (Afroteca-ASP) e aulas de alfabetização no clube, realizadas pelas “Senhoras Prontistas”, entre outras atividades, como teatro, exposições, concursos de beleza (Rainha Negra), e trabalhos sociais: auxílio-funeral, odontológico e consultas médicas. Em 1996, a ASP começa a fazer parte do projeto Pré-Vestibular Zumbi dos Palmares, voltado para a preparação de estudantes para as Universidades do Estado, com professores voluntários e materiais didáticos doados. Posteriormente, funda o seu próprio curso, passando de intensivo para extensivo, denominado Projeto Educacional Pré-vestibular da Associação Satélite Prontidão, ampliando o número de vagas ofertadas. A ASP também foi responsável pela criação do Troféu Zumbi, este sendo destinado a homenagear pessoas negras ou aqueles que tivessem realizado contribuições para a comunidade negra.
Em 2009, o Prontidão passou a ser reconhecido como Patrimônio Histórico e Cultural do Rio Grande do Sul, através da Lei Ordinária 13.183. Ao longo do ano de 2022 a ASP desenvolveu durante quatro meses Oficinas de História e Memória Negra, organizado pela Diretoria de Acervo e Pesquisa que atua na coordenação do Memorial da ASP. Os encontros ocorreram na sede do clube e contaram com reuniões em plataformas digitais em parceria com o Instituto Federal Rio Grande do Sul, que emitiu certificados de participação nas oficinas. Destaca-se a presença de pesquisadores da UFRGS para debater a história e memória do clube, tais como Gabriel Gonzaga dos Santos e Ana Lúcia Fellipe Feijó. No dia 07 de agosto de 2023, a ASP foi certificada pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) como ponto de memória. Através das pesquisas já realizadas sobre o clube, é possível perceber que, desde a sua fundação, a ASP sempre esteve envolvida com a educação, preservação da cultura e assistência da população negra, sendo mais que um espaço de sociabilidade, mas igualmente um local de resistência negra que se movimentou junto com a cidade, indo aonde se fazia necessário.